Pouco extensas mas pertinentes.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

ELAS-As mulheres trabalhadoras como é óbvio!

Elas fizeram greves de braços caídos!
Elas brigaram em casa,
para ir ao Sindicato e à Junta.
Elas gritaram à vizinha que era fascista...
Elas souberam dizer,
salário igual e creches e cantinas.
Elas vieram para a rua de encarnado,
Elas foram pedir para ali,
uma estrada e canos de água.
Elas gritaram muito!
Elas encheram as ruas de cravos!
Elas disseram à mãe e à sogra que
isso era dantes.
Elas trouxeram alento e sopa
aos quartéis e à rua.
Elas foram para as portas de armas
com os filhos ao colo.
Elas ouviram falar de uma grande mudança
que ia entrar pelas casas.
Elas choraram no cais,
agarradas aos filhos que vinham da guerra.
Elas choraram,
de ver o pai a guerrear com o filho.
Elas tiveram medo e foram e não foram.
Elas aprenderam a mexer nos livros de contas
e nas alfaias das herdades abandonadas
Elas dobraram em quatro um papel
que levava dentro uma cruzinha laboriosa.
Elas sentaram-se a falar à roda de uma mesa
a ver como podia ser sem os patrões.
Elas levantaram um braço
nas grandes assembleias.
Elas costuraram bandeiras e bordaram
a fio amarelo pequenas foices e martelos.
Elas disseram à mãe:
segure-me aqui os cachopos, senhora,
que a gente vai de camioneta a Lisboa
dizer-lhes como é...
Elas vieram dos arrabaldes
com o fogão à cabeça
ocupar uma parte de casa fechada.
Elas estenderam roupa a cantar
com as armas que temos na mão.
Elas diziam tu às pessoas com estudos
e aos outros homens.
Elas iam e não sabiam para onde, mas iam.
Elas acendem o lume.
Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado.
São elas que acordam pela manhã as bestas,
os homens e as crianças adormecidas!


Maria Velho da Costa

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